Você e a Guerra Espiritual

A Rita estava confusa. Ela era uma crente há mais de três anos, e agora um dos principais ministros da sua igreja dizia-lhe que ela estava possuída por um demónio. Ela tinha que ser liberta. Satanás tinha-a sob o seu controle, foi-lhe dito, e, talvez também haveria uma maldição que teria sido passada para ela pelos seus antepassados.

O ministro avisou-a que se ela fosse a uma reunião nocturna no Domingo às 8 horas, ela seria libertada dos "laços demoníacos." A Rita sabia que amava Jesus, e confiava no seu ministro. O que é que ela deveria fazer? Poderia um demónio estar realmente o seu coração Cristão?

O John frequenta a sua igreja local há bem mais de dez anos. A moral da congregação passou por altos e baixos, mas ele sentia-se bem lá. Um pastor visitante deu um sermão comovedor sobre evangelismo; Ele disse que o mundo tem que ouvir o evangelho antes que seja tarde. "Nós precisamos de nos envolver num plano de acção significativo para alcançar as pessoas não salvas, tanto nas nossas comunidade como à volta do mundo".

O John estava entusiasmado. O pastor estava certo - o evangelho tem que ser pregado. O John decidiu tornar-se um "Guerreiro de orações" em prol do evangelho, e começou a assistir a reuniões em múltiplas denominações. Numa destas reuniões oratoriais ele aprendeu que parte do plano de evangelismo mundial deveria incluir a derrota de satanás e a destruição de bastiões espirituais. Foi dito ao John que os demónios comandam nações, cidades e até comunidades locais. Estes demónios têm de ser procurados e expulsos antes que o evangelismo efectivo possa tomar lugar. O John achou esta ideia estranha, mas também plausível. Com certeza que satanás tem de ser derrotado antes que o evangelismo possa tomar lugar. Mas John não estava seguro - deveria ele continuar o seu envolvimento com este grupo, ou afastar-se?

A libertação, o quebrar dos laços, a união das maldições, a destruição de bastiões satânicos, são conceitos que estão a preocupar muitos Cristãos hoje em dia. Alguns teólogos populares e outros homens e mulheres sinceros estão a ensinar e a encorajar estas ideias. Mas será seguro? Haverá armadilhas?

Se você for até a sua livraria local verá que alguns dos best-sellers são sobre o tema "Guerra Espiritual". Também existem cassetes e videos disponíveis. O que é que um crente tem que fazer? Como é que ele ou ela podem ser guiados através de todo este material por vezes conflituoso, para chegarem a um ponto de vista equilibrado e defensivo biblicamente?

A Bíblia diz claramente que a "Guerra Espiritual" existe. Leiam I Pedro 5:8 e Efésios 6:12. Estes versos indicam que satanás está a travar uma guerra contra os esforços do Cristãos de modo a impedir a difusão do evangelho. A Bíblia também explica que através de Cristo esta batalha já está ganha. A vitória é nossa! (Colossenses 1:13, Actos 26:18, I Coríntios 15:57, Romanos 8: 37-38). Existe uma clara fundação nos ensinamentos bíblicos de que nós já temos a vitória em Cristo.

Assim sendo, temos aqui seis questões que você poderá colocar a sí próprio quando confrontado com material que tenha a ver com a "Guerra Espiritual".

O ensinamento ou a prática suportam uma visão dualista do mundo?

Dualismo é a ideia de que existem dois poderes cósmicos oponentes: o bem e o mal, ou, Deus e satanás.

Eles estão fechados numa luta perpétua, e o desfecho nem sempre é claro. Por vezes o bem vence, por vezes o mal. Olhando para o mundo de hoje, alguns chegariam à conclusão de que o mal já ganhou a batalha. Contudo, a visão Bíblica é que Cristo já venceu o mundo (João 16:33) e que satanás já está derrotado (Lucas 4:1-13, Hebreus 2:14, Colossenses 2:15).

A verdade é que "O Deus Senhor omnipotente reina" (Apocalipse 19:6). Satanás e os demónios podem actuar de uma maneira limitada, e, apenas do modo que Deus permite. Muitas histórias, como a de Job, ilustram isso. O dualismo não é uma imagem correcta do estado do mundo, mas sim, uma distorção de satanás, o qual tem o desejo de "ser como o altíssimo" (Isaías 14:14).

Ensinar que a "guerra espiritual" directa ou indirectamente sustenta o dualismo não é biblicamente defensível, sendo portanto questionável. O conceito de dualismo diminui Deus e coloca-o num estatuto igual ao de satanás. Assim, este ensinamento, que é a base de muita libertação ministerial , é fundamentalmente errado.

Nós temos a vitória. Deus é maior que satanás.

O ensinamento ou a prática levam ao animismo cristão ou superstição?

Animismo vem da palavra latina "anima" que significa fôlego de espírito. Assenta na ideia de que o mundo está cheio de espíritos bons e maus, e que o homem tem que arranjar um modo de manipular ou controlar a energia desses espíritos em seu próprio proveito. O animismo é encontrado em religiões antigas e também no pensamento modernista.

Controlar o espírito do mundo é também o pensamento por trás da bruxaria e feitiçaria. Mediums tentam estabelecer contacto através de rituais, feitiços ou técnicas ocultas. Procurar rituais para exercer poder é confiar na magia.

Este pensamento animista é espelhado em alguns círculos cristãos. Uma qualidade mágica é por vezes atribuída a frases como 'Em nome de Jesus.' 'Em nome de Jesus' não é uma expressão com encanto mágico, mas é, pelo contrário, o reconhecimento de que Cristo é nosso mediador, e que através da sua graça salvadora nós somos libertos dos laços do medo e dos pensamentos destrutivos.

Algumas pessoas podem tentar juntar os espíritos, o que tem a ver com o controlo e manipulação do mundo espiritual. Tiago 4:7 e I Pedro 5:9 explicam que a resposta Cristã a satanás, é, resistir. Não há nenhuma prova no novo testamento para mostrar que os apóstolos estiveram numa missão de procurar e destruir os demónios. Houve ocasiões em que eles viram-se confrontados com actividades demoníacas, de tal modo que tiveram de actuar. Eles encontraram demónios, e lidaram com eles, trazendo sempre "à luz", Jesus. Mas os apóstolos não andavam à procura de confrontos com os demónios ou à procura de confusões, nem era o poder de exorcizar demónios em nome de Jesus o seu objectivo primário.

Um dos problemas com a abordagem da "libertação", é que os cristãos tendem a ficar preocupados com o modo como satanás pode ou não estar a afectá-los. Eles atribuem ingenuamente qualquer problema à obra de satanás, o que em efeito, pode tornar-se em superstição. Filipenses diz-nos que nós devemos pensar no bem e em assuntos úteis, e não em coisas negativas. Nós deveriamos estar concentrados nas nossas relações com Jesus Cristo, e não nos questionarmos regularmente sobre a nossa relação com satanás.

O ensino ou a prática promovem a ideia de que os cristãos podem ser possuidos?

Alguns evangelistas dirão que é possível Cristo e um demónio co-existirem num crente. Na verdade, alguns apregoam que até 85% dos Cristãos são possuídos!

Este ensinamento é assustador e não leva à paz. Uma jovem mulher abordou-me sobre este assunto alguns meses depois do seu baptismo. Foi-lhe dito que apesar dela ter o espírito de Deus, também tinha vários demónios. Ela ficou petrificada e em lágrimas. Eu expliquei-lhe que ela não precisava ter medo uma vez que Deus e satanás não vivem lado a lado num Cristão. "Pois Deus não nos deu um espírito de medo, mas….de uma mente sã" (II Timóteo 1:7).

A Bíblia não sustenta a ideia de que Cristãos possam co-existir com demónios. I João 5:18 encoraja-nos, expondo que nós, que somos cristãos, não podemos ser tocados pelo mal. II Tessalonicences 3:3 também relembra-nos que Jesus mantém-nos afastados do mal e que nós devemos ter fé que Deus faça isso, tal como nós somos exortados a orar na oração do Senhor - "liberta-nos do malvado" (Mateus 6:13).

Nós podemos ter fé nas promessas de Deus; Através da cruz fomos libertados do poder das trevas, e o próprio Jesus mantém-nos afastados do mal. Nas suas mãos estamos protegidos. Não precisamos de nos "encostar" a frases que soam a "cristão semi-mágico", ao abanar dramático de mãos e ordens gritadas a demónios reais ou imaginários.

A alegria da nossa salvação é que "Cristo vive em" nós (Gálatas 2:20, Efésios 3:17, João 17:21-23). A Bíblia não endossa a ideia de que o nosso salvador e o nosso adversário co-existem em nós. Satanás não vive no crente, Jesus sim vive. O único modo em que um demónio pode possuir um crente é se o crente entregar-se a si próprio ou própria ao demónio. Os demónios podem tentar oprimir, ou erguer tentações no nosso caminho, mas eles não podem controlar-nos.

O ensino ou a prática promovem um falso ponto de visto do Espírito Santo?

Conforme a Bíblia, o Espírito Santo é Deus, a terceira pessoa da trindade. O Espírito Santo não é um mero anjo bom ou uma força poderosa que emana de Deus. O Espírito Santo é Deus.

Infelizmente, algumas pessoas que estão envolvidas na "Guerra Espiritual" tratam o Espírito Santo como se fosse um poderoso anjo ou até um demónio. Nós sabemos por Romanos 8:15 que o Espírito Santo não é o espírito da escravidão mas sim o espírito da liberdade, e, João 14:16-17 explica que o Espírito Santo habita no crente.

Quando os demónios possuem uma pessoa, por vezes entram e saem dela quando lhes apetece. Contudo, o Espírito Santo não funciona desse modo. Assim que recebermos o Espírito Santo, ele passará a viver connosco, e, I João 2:27 explica que o ungimento que nós recebemos depois de aceitarmos Jesus Cristo mantém-se connosco.

Outro perigo é ver o Espírito Santo como agente de controlo. O Espírito Santo não assume controlo das nossas mentes contra a nossa vontade. Deus não nos deu livre vontade para depois a tirar de nós. É satanás que quer tirar a nossa livre vontade. O nosso desejo de nos submetermos à vontade de Deus é voluntário, não pela força. Alguns escritores acham que se o invocarmos, o Espírito Santo possuir-nos-há para que ele nos possa manipular e forçar-nos a fazer o que Deus quer. Contudo, um dos frutos do Espírito Santo, se este habitar entre nós, é o auto-controlo (Gálatas 5:23, I Coríntios 14:23). Um dos resultados de posse satânica é a falta de auto-controlo (Actos 19:16).

O Espírito Santo nunca age como um demónio, e qualquer ensinamento que sugira que ele age dessa forma, torna-se uma questão de heresia.

O ensino e a prática colocam a experiencia acima das escrituras?

Algumas pessoas colocam as suas experiências espirituais acima dos ensinamentos das escrituras. Elas defendem as suas posições vigorosamente. "Não me interessa o que tu dizes. Eu tenho tido uma experiência espiritual verdadeira, e isso pesa mais que todas as escrituras que tu me possas atirar".

O que há de errado com esta abordagem?

Há algum tempo atrás eu assisti a um seminário de orientação matrimonial. Lá, um senhor explicava que estava a ter problemas com a sua esposa (segundo o seu ponto de vista) - ela não o satisfazia sexualmente, e como resultado, ele estava a maltratá-la. O conselho dado foi que o tal senhor deveria ter um caso! "Obtenha satisfação sexual fora do casamento", disse um conselheiro, "e depois você começará a ter uma melhor relação com a sua esposa." Depois disto, o tal senhor teve realmente um caso, "suavizou-se" com a sua esposa, e ela não foi mais verbalmente e emocionalmente abusada por ele. Assim sendo, o adultério resulta? Esta experiência significa que nós podemos rejeitar os ensinamentos bíblicos acerca de sexo extraconjugal? Pode a experiência anular a escritura?

O problema é a equação: experiência = realidade = verdade. Para os cristãos, a verdade nem sempre é pregada com base na realidade da experiência, e é por isso que precisamos de fé. A realidade pode ilustrar a verdade bíblica, mas não é a sua fundação. João 17:17 explica "A palavra é a verdade." A razão pela qual rejeitamos a ideia tirada da história acima descrita, que o adultério funciona, é porque sabemos que a Bíblia é a maior autoridade em verdade moral. É também a maior autoridade em verdade espiritual.

Heresias e cultos têm sido regularmente edificados e baseados nas visões e experiências espirituais de profetas e profetisas. Todas as experiências ( físicas, mentais, emocionais e espirituais) têm de ser vistas à luz da palavra de Deus. Tenha cuidado quando alguém afirmar que a sua experiência é igual ou de maior valor que as escrituras.

O ensino e a prática têm confirmação nas escrituras?

A resposta a isto é com certeza óbvia. Veja as escrituras como os Bereanos as viam "para descobrir se estas coisas eram assim" (Actos 17:11).

Alguns dos ensinamentos e práticas (o ensino nem sempre está de acordo com a prática!) em matéria de "Guerra Espiritual" não têm nenhuma confirmação nas escrituras. Alguns ignoram claramente os precedentes bíblicos, alguns vão contra o espírito da graça, alguns comparam-se a teologias pagãs.

Erros doutrinais nestas matérias não significam a inexistência de tal coisa como a "Guerra Espiritual". Esta existe. Nós já temos a vitória de Deus, mas, satanás e as suas legiões permanecem determinados no seu ataque contra nós. Podemos confiar nas palavras reconfortantes de Jahaziel a Josafat e ao povo de Judá - "E disse: dai ouvidos, todo o Judá, e vós, moradores de Jerusalém, tu ó rei de Josafat. Assim o Senhor vos diz: Não temais, nem vos assusteis, por causa desta grande multidão; pois a peleja não é vossa, senão de Deus" (II Crónicas 20:15).

Tiago diz para "nos submetermos a Deus. Resistir ao diabo, e ele fugirá de nós" (Tiago 4:7), e Pedro também adverte-nos a resistir, ao mesmo tempo não julgando os outros e percebendo que as tentações e provações são comuns a toda a humanidade (1 Pedro 5:9).

Paulo explica em Efésios 6:12-18 que nós lutamos contra a malvadez espiritual e contra "principados e poderes." Usando os mesmos termos Gregos, Paulo também afirma em colossenses 2:15 que através da crucificação e ressurreição o nosso salvador "desarmou principados e potestades e triunfou sobre elas." Ele rejubila no facto de que "em todas estas coisas somos mais que conquistadores através dele que nos amou… pois estou persuadido que nem morte nem vida, nem anjos nem principados nem poderes… podem nos separar do amor de Deus o qual está em Cristo Jesus o nosso salvador" (Romanos 8:37-39).

Paulo diz na mesma secção de Efésios que para "resistir no dia-a-dia maléfico" devemos usar a armadura de Deus, submetendo-nos assim a ele como Tiago disse. Temos de fazer a nossa parte. De acordo com Provérbios 21:31 - "o cavalo prepara-se para o dia da batalha, mas do Senhor vem a vitória".

Não há nada a recear. Nós temos a vitória. Deus está do lado dos Cristãos, e, "se Deus é por nós, quem é contra nós?" (Romanos 8:31).


James R Henderson

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